sexta-feira, novembro 19, 2004

Conspiradores e Traidores

A fotografia é a frente de um Postal, escrito na prisão de Caxias, por um preso político de nome Tomé para Albino Martins de Castro, morador no lugar da Igreja em Fânzeres, Rio Tinto.

Amigo Albino Cá estou e continuo bem de saúde.
A vida não mata e como regularmente e há pinguinha.
Este grupo é os de Gondomar. A cadelinha é do Sargento
que nos serve e é uma bela pessoa.
Dá recados a todos os nossos amigos e aos meus e à tua
esposa e ao Parada.
Teu amigo
Tomé

Por motivos desconhecidos, Albino Martins de Castro, nunca recebeu o postal do seu amigo Tomé.
Durante todo o ano de 1911, elementos afectos à carbonária semearam um reino de terror em todo o país, com particular incidência nos centros urbanos.
De acordo com Vasco Pulido Valente*:
“De Agosto de 1911 a Julho de 1912, pelo menos 2383 pessoas entraram nas cadeias da República [...]. Por uma razão ou outra, ou por razão nenhuma, foram presos trabalhadores e aristocraticas, dirigentes sindicais e contra-revolucionários monárquicos. [...] as cadeias estavam cheias de presos políticos. [...]com falta de espaço( 640 pessoas ocupavam os 400 lugares da relação do Porto), de frio (chovia nas celas de Caxias, de fome, de falta de higiene (quase não existiam retretes) e de maus tratos. Apuraram-se casos de tortura (espancamentos, arrancamento de barbas), de meses de incomunicabilidade, semanas de segredo e ameaças de morte. Dizia-se que o ministro da Justiça de Chagas, numa visita ao limoeiro, chorara perante um preso e que à saída, trazia 18 piolhos agarrados ao casaco. O próprio embaixador Inglêz, por ordem de sua Majestade Britânica, foi em pessoa, assegurar-se do que se passava nas cadeias da soberana República Portuguesa e não desmentiu uma única das alegações que a «reacção internacional» energicamente «propalava»”
*O poder e o povo – A revolução de 1910, pag. 265 e seguintes (Publicações D. Quixote)

2 Comments:

Blogger Marco Oliveira said...

A minha avó materna contou-me uma vez como eram as rusgas naquele tempo. Ela lembrava-se de, juntamente com os irmãos, esconder bandeiras monárquicas e fotos sob as fronhas das almofadas. Também por várias vezes ouviu e presenciou tiroteios nas ruas de Lisboa.

Entre as relíquias da nossa família conta-se uma fotografia autografada pelo rei D. Manuel II e um álbum de fotos com a visita do rei Eduardo VII, onde aparecem, com frequência, D. Carlos e a rainha D. Amélia. Creio que temos alguns antepassados muito ligados à família real.

O meu pai é monárquico; creio que ele vai adorar este blog.

6:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O meu nome è Manuel Albino de Paiva Martins de Castro, o meu pai e o meu bisavô eram Albino Martins de Castro e eu nasci na Rua da Igreja em Fânzeres.
Gostaria de obter mais detalhes sobre esta epóca em Fânzeres.

Albino
albinocastro@gmail.com

7:07 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home