quinta-feira, dezembro 23, 2004

Boas Festas

Este blogue deseja a todos os seus leitores um
Feliz Natal
e
Próspero Ano Novo
Nota: Este blogue será escrito a conta-gotas nas próximas duas semanas devido ao facto de ter que consultar a imprensa diária de 1913 (Possível na Hemeroteca de Lisboa até às 22h, apenas às Terças-Feiras) para poder enquadrar as cartas escritas por Raimundo Enes Meira, quando ocupou o posto de Governador-Civil de Coimbra, nos acontecimentos ocorridos naquela cidade em Junho/Julho de 1913.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Os participantes na Reunião do Directório

Vasconcelos, José Estêvão de (1868-1917) (1)
Nasceu em Olhão, em 13 de Novembro de 1868. Fez estudos em Lisboa, cidade onde alcançou, em 1894, o bacharelato em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica. Exerceu clínica em Vila Real de Santo António e passou a residir em Lisboa em 1911. Foi administrador da Caixa Geral dos Depósitos entre este último ano e 1917. Filiado no Partido Republicano Português (Democrático), integrou o seu Directório, nos anos de 1902-1903 e 1913, e che­fiou a respectiva bancada na Câmara dos Deputados, até 1917. Propagandista da República desde 1890, teve actividade na imprensa como director de A Van­guarda colaborador de O Mundo, e fundador e director de A Pátria (Lisboa). Eleito deputado por Setúbal, em 1908 e em 1910. Deputado e senador por Beja em 1911, foi chamado ao governo no final desse ano, desempenhando as funções de ministro do Fomento entre Novembro de 1911 e Junho de 1912. Regressou ao Senado em 1915, ainda por Beja. Faleceu em Lisboa, em 15 de Maio de 1917.
Guimarães, Vitorino Máximo de Carvalho (1876-1957) (2)
Oficial de administração militar. Começa como franquista, mas logo em 1908 surge como um dos líderes da revolta contra a monarquia. Membro da Jovem Turquia e do partido democrático. Professor na Escola Militar, no Instituto Superior de Comércio e na entidade que lhe sucedeu, o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Assumiu-se politicamente como centrista dos democráticos, entre a ala dos bonzos e dos canhotos. Autor da reforma tributária de 1923.
Deputado às constituintes. Chefe dos serviços administrativos da 2ª divisão do CEP. Ministro das finanças do governo de José de Castro (de 19 de Junho a 29 de Novembro de 1915). Ministro das finanças do governo de Cunha Leal (de 16 de Dezembro de 1921 a 6 de Fevereiro de 1922). Ministro das finanças do governo de António Maria da Silva (de 14 de Setembro a 13 de Agosto de 1923). Presidente do ministério de 15 de Fevereiro a 1 de Julho de 1925. A sua principal obra é Contabilidade Pública. Sua Origem e Evolução em Portugal, publicada na Revista da Contabilidade Pública, entre 1941 e 1943.
Martins, Germano Lopes (1871-1950) (1)
Nasceu no Porto, em 7 de Janeiro de 1871, ingressou na Faculdade de Direito de Coimbra (1889-1897), onde alcan­çou o bacharelato (1897). Repartiu a vida profissional entre o exercício da advo­cacia, no Porto e em Lisboa, e o funcionalismo público. Foi gerente do jornal O Norte, representante do Estado na administração da Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses, e Conservador Geral do Registo Civil (1911-1922). Filiou-se no Partido Republicano Português em 1890, participando no 31 de Janeiro. Desempenhou os cargos de vereador da Câmara Municipal do Porto, e de secretário geral (1910-1911) e director geral (1911-1935) do ministé­rio da Justiça. Foi deputado democrático pelo Porto nos anos de 1911 e 1915, presidindo à respectiva Câmara a partir de 1912. Ministro do Interior, entre l de Julho e l de Agosto de 1925. Faleceu em Lisboa, a 21 de Junho de 1950.
Lente de Medicina. Colaborador de Ricardo Jorge. Antigo militante progressista e maçon desde 1909. Deputado às Constituintes em 1911. Ministro da instrução do governo de Afonso Costa, de 9 de Janeiro de 1913 a 9 de Fevereiro de 1914. Chefe dos serviços de saúde da CEP. Ministro da instrução no governo de José Domingos dos Santos, de 22 de Novembro de 1924 a 15 de Fevereiro de 1925.
Fontes:
(1) - Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República

domingo, dezembro 12, 2004

A Carta a Estevão

Simas Machado seguiu o primeiro conselho, guardou a carta. A missiva enviada a Estêvão de Vasconcelos rezava assim:

Meu prezado amigo

A minha posição é irredutível, o Sr. Dr. Sousa Júnior afirmou ontem peremptoriamente, que o governo e a maioria parlamentar estavam incompatíveis comigo, dada a atitude a minha atitude de franco ataque ao sistema da nossa administração colonial.
Eu não percebo nem reconheço esta incompatibilidade. Estou fazendo, fiel aos princípios e às tradições do velho partido republicano, uma campanha de moralidade que só pode incompatibilizar-me com aqueles que iludem ou sofismam esses princípios e desejam manter dentro da república os processos que desmoralizaram e perderam a monarquia.
Não posso conceber, por minha parte, outra atitude: só abandonarei o directório ante o congresso que me elegeu – quando eu estava já vivamente empenha-do nesta campanha. Vejo bem a inconveniência de um congresso extraordinário, aliás desnecessário, para julgar a pretensa incompatibilidade; mas se a maioria do directório não concordar comigo e se decidir pela sua convocação, eu declinarei nela a respeitabilidade politica das presumíveis e naturais consequências, e não terei dúvida nenhuma em dar conta dos meus actos perante essa magna assembleia soberana.
Aproveito o ensejo para enviar-lhe por cópia uma carta que recebi ontem, do colega Adriano Pimenta, ausente no Porto.
Sou com verdadeira consideração

Amigo certo, muito admirador

Alfredo Magalhães

Reúne-se o Directório (2ª Parte)

Continuação do último postal

Nesta altura o Germano ofereceu-me uma cerveja que eu não aceitei, por me parecer ou lembrar o Rum dos condenados à guilhotina… E andaram todos a passar-me a mão pelo cabelo; Sousa Júnior, o parvo, aconselhara-me, paternalmente, que saísse sem violência, era o melhor, para não ferir a república. Veja você o procurador da república! Germano coçava a careca e monologava: É o diabo, é o diabo… O congresso extraordinário será um chinfrim levado dos demónios… Vitorino, como um porco de focinho voltado para a terra, pensando mais na pia que nestas mirabolâncias da ortodoxia partidária, sempre mudo e quedo… Estêvão, que delicia! Que sensato ele estava!

Por fim, já maçado e tomado de infinito nojo perante tanta miséria moral e através da qual eu leio o irremediável afundar da raça, fiz a seguinte fala: Pois bem; dada a importância do assunto, eu quero dar aos senhores mais uma prova da minha reflexão. Vou dormir sobre o caso para que não me acusem de precipitado, e amanhã eu lhes comunicarei por carta a minha resolução definitiva.

Acharam óptimo! Perguntaram a quem dirigiria essa carta? Respondi naturalmente: - Para o colega Estêvão, por ser… Ministro de Estado Honorário. Assim ficou assente. Ontem cumpri, enviando a Estêvão a carta que por cópia envio a você só para ficar inteirado da minha atitude. Leia você essa carta duas ou três vezes, pense nele um pouco, e se estiver por isso, diga-me se concorda com a minha orientação.
Aguardo agora os acontecimentos com imperturbável serenidade.
Não tenho tempo para mais.
Veja o meu caro Simas se lhe sirvo para alguma coisa e disponha sempre do seu

Amigo certo

Alfredo Magalhães
Lisboa 5 de Julho de 1913

PS: Olhe que essa carta deve guardá-la ou inutilizá-la. Não a mostre a não ser a pessoas da sua inteira confiança. Julgo ser um bom documento a não ser que seja apanhado pela imprensa nesta conjuntura. Vê bem.

PS: Para lhe poupar a maçada de escrever uma segunda carta ao nosso amigo Pimenta, peço-lhe que o procure já, para ele ler esta carta e dizer-lhe que recebi a carta.Como só voltei do directório às 3 da madrugada. Enviei-a no dia seguinte ao Estêvão. Pode também informá-lo que foi bem atacado por Germano e Sousa a propósito da reunião das comissões do Porto quando os consultou em matéria da Lei eleitoral. Defendi-o como pude e soube, como era um dever.

Reune-se o Directório (1ª Parte)

Alfredo de Magalhães, governador de Moçambique, entra em 1913 em litígio com a politica ultramarina do governo de Afonso Costa. A sua oposição traz-lhe inúmeros inimigos dentro do Partido Democrático e culmina na sua expulsão do Partido.
Em 5 de Julho de 1913 Alfredo de Magalhães escreve a Simas Machado a contar uma reunião do directório do Partido Democrático onde lhe exigiram a demissão.

Meu caro Simas

Reuniu a maioria no Conclave da Regaleira, logo que fecharam as câmaras. O Pimenta assistiu a essa espantosa reunião, ele que lhe conte o que lá se passou. Sobre mim é que infinitamente incidiram os caminhos dos mártires, à ordem e soldo do Júpiter tonante*, que por eu não estar presente, se permitiu cobrir-me de insinuações e impropérios de toda a ordem. Como vem aí eleições e eu vou lançar “O rebate”, aquela malta ou súcia, como você quiser, acha o momento aziago para um sacudir do directório, pois vê que nem num nem noutro campo, no eleitoral e no da imprensa, tem a contar com a fita de um chicote.
No dia seguinte o Directório reuniu. Apareceu o Germano, o Vitorino Guimarães, o Sousa e o Estêvão. A sessão começou tarde porque os sujeitos entraram à formiga e cheios de enleio, os malandretes, com pouca coragem para a sortuda de S .Carlos, saímos só de madrugada.
Expus singelamente a situação partidária, o que fizera nos últimos tempos durante o impedimento de vocês no Parlamento, disse o que convinha fazer no sentido de organizarmos o desmantelado partido, etc. etc. Caí a fundo no Conclave da Regaleira, para que, quando o patrão ou dono daqueles podengos fosse avisado suprisse sobre muitas disposições.
Os tipos ouviram, ouviram, ora enfiados, ora estúpidos, contorcendo-se, e depois um por um foi saindo à atacada para defenderem a escudela.
Refilante, o eleito Germano, enquanto que o Estêvão, cheio de calma e bonomia, fez de pai nobre, todo pretensioso, bom senso e bom concelho. Vitorino, de focinho voltado à terra, amolava, amolava, queria falar, mas não falou.
Por fim voltou-se o Senador Sousa. Era ele que vinha incumbido de apresentar o mandado de despejo! O Sousa Júnior! Foi longa a peça oratória, depois de um monumental elogio, celebrando o meu carácter, o meu talento, o meu patriotismo, o meu patriotismo, o bom do regedor, com ares de esperto, quis mostrar que a minha situação no directório não podia manter-se devido à minha atitude de oposição (!) ao governo e que este e a maioria eram incompatíveis comigo!!! Note você, que tudo isto foi feito com muito açúcar, amavelmente, ouvindo eu tudo sem proferir palavra senão quando ele rapa do bolso uma moção delambida de apoio ao ministério pela obra incomparável, que só pode assombra camelos inconscientes do que dizem, do que fazem e da tristíssima situação em que se encontra este desgraçado país a resvalar para a morte fatal.
Expus as minhas razões, atirei-lhes, claro é, à cabeça, e disse que não só não aprovava a moção, como não sairia do Directório senão em sessão do congresso ordinário ou extraordinário. Ainda o Estêvão opinou que a moção se publicasse embora não aprovada por unanimidade. Observei que faria pública declaração do meu voto. – Então não! Isso é o diabo.
(Continua)
* Jupiter Tonante - Afonso Costa - Nota do Autor

Alfredo de Magalhães (1870-1957)

José Alfredo Mendes de Magalhães, nasceu a 20 de Abril de 1870, em S. Salvador de Gandra (Valença do Minho).
Após ter frequentado o Colégio Jesuíta
do Espirito Santo, em Braga, foi para o Porto onde, concluído o liceu, ingressou na Academia Politécnica e na Escola Médico-Cirúrgica (1890-1896), tendo alcançado o bacharelato nesta última (1896). Frequentou ainda a Universidade de Paris (1898), exercendo clínica nos hospitais de Saínt Louis e Broca Pascal daquela cidade.
Repartiu a vida profissional entre a actividade médica e a docência na Escola Médica do Porto (1902-1910; 1919-1942) e no Instituto Superior de Comércio portuense. Fundador da revista Porto Médico e organizador do 4° Congresso da Liga Nacional contra a Tuberculose (1907), desempenhou as funções de director da Penitenciária de Lisboa (1910), Governador Civil de Viana do Castelo (1910-1911), Governador de Moçambique (1912-1913), comissário do governo na Madeira, director da Faculdade de Medicina do Porto (1923-1925) e reitor da respectiva Universidade (1926).
No Porto foi director da faculdade de Medicina (1923-1928) e a ele se deve a criação da Maternidade Júlio Dinis e Reitor da Universidade do Porto (1925-1926)
Com a Ditadura ascendeu novamente a ministro da Instrução, 1926 e 1928. Presidente da Câmara Municipal do Porto (1933-1937) e procurador à Câmara Corporativa (1935-1937). A partir de 1937 presidiu à Direcção da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras daquela cidade.
Republicano independente, viria a aderir, em 1890, ao Partido Republicano Português, integrando o seu sucedâneo Democrático entre 1911 e 1913 - ano em que foi expulso do partido. Filiou-se depois no Partido Republicano Presidencialista e, após 1926, na União Nacional. Colaborador em jornais republicanos, sucedeu a Duarte Leite na direcção do periódico Pátria (1910). Deputado do P.R.P. por Lisboa (1911), tendo participado na acção revolucionária civil em defesa do novo regime, aquando da primeira incursão monárquica do mesmo ano.
A partir de 11 de Dezembro de 1917, e ao longo de todo o ano seguinte, foi sucessivamente Ministro da Instrução e da Marinha. Candidato a deputado presidencialista por Lisboa em 1921.
Publicou numerosos artigos e livros.
Faleceu no Porto, a 17 de Outubro de 1957
Fonte: inistros e Parlamentares da 1ª República” – Guinote et al - Assembleia da república

Alfredo de Magalhães junto à maquete da Maternidade Julio Dinis - Fonte:Ministério da Saúde

Alfredo de Magalhães é a personalidade com maior número de missivas no acervo do General Simas Machado (Cerca de 50), missivas possuidoras de uma vasta riqueza de informação sobre este periodo.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Férias na Neve

Muito se falou há poucos anos de uma vivenda de férias de um certo Primeiro-Ministro. Em 1913, o “Chalet" de Afonso Costa na Serra da Estrela era presença nos postais ilustrados.

O Discurso de Santarém

Em 10 de Novembro de 1912, Afonso Costa, pronunciou em Santarém um discurso no qual estabeleceria as bases da sua actuação futura. Neste discurso para além de dos chavões da independência nacional, equilíbrio orçamental, desenvolvimento e educação, Afonso Costa discursou sobre o que entendia por “Democracia”.
Para Afonso Costa, o Partido Republicano Português – PRP (também conhecido pela sua denominação popular – Partido Democrático) era o único merecedor do nome de “Partido, os restantes partidos (Unionista e Evolucionista) eram “improvisados clubes de província formados por pessoas que desconhecem a ciência da sociedade” não contavam nem poderiam contar.
De acordo com Afonso Costa, “O povo reclamava a reintegração de todos os republicanos no PRP, todos tinham que voltar para onde estavam no 5 de Outubro de 1910, Portugal necessitava de uma ditadura do PRP e tinha de ser entregue aos militantes Republicanos, e todos os Republicanos tinham que obedecer ao PRP. Os funcionários (A base de funcionamento do estado) tinham, para alem de serem honrados, de ter um amor bem comprovado aos princípios republicanos."

Em 9 de Janeiro de 1913, Manuel de Arriaga convida Afonso Costa a formar Governo, nos meses seguintes o Partido Democrático toma de assalto as estruturas do Estado, com particular destaque para os Governos-Civis, procurando desta forma impor a sua vontade e a sua clientela a todo o Portugal.

sábado, dezembro 04, 2004

Desejo de Melhoras


Afonso Costa. ao tempo apenas deputado, cargo que achava pouco digno, só assim se explica o "Antigo ministro da Justiça" e principal mentor da primeira reforma ortográfica da língua Portuguesa (Que eliminou a grafia dupla), mostra que "em casa de ferreiro, espeto de pau", pois parece que a lei era só para "os outros".

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Grupo Radical

Em 7 de Julho de 1912, Raimundo Meira recebe a seguinte deliberação do conselho secreto do Grupo Radical de Defesa da República.

Exmo. Capitão de artilharia Raimundo Meira

A comissão executiva do Grupo Radical Defesa da República reunido em sessão, tendo em vista os grandes serviços por Vexa. Prestados em prol da República, e sendo de urgente necessidade que alguém dirija com capacidade os destinos deste importante grupo, resolveu por uma unanimidade que Vexa fosse nomeado Chefe Supremo deste grupo, e que ficassem incondicionalmente à disposição de Vexa os cidadãos filiados que o compõem.
A comissão:
João José de Carvalho Lima, Rua Bonfim 113;
José Pedroso de Lima, Rua Bonfim 113;
José da Costa, Campo do Rou 24, Massarellos;
António José d’Almeida de Carvalho, Sargento reformado. Quartel da Serra do Pilar;
José Afonso, Rua Pinto Bessa 597;
José Lopes d’Oliveira, Rua do Bonfim 113.


Saúde e fraternidade

Porto, 7 de Julho de 1912

Não consegui arranjar mais notícias das acções deste Grupo Radical, nem relacionados com as incursões de Paiva Couceiro, nem tampouco relacionados com as ameaças e ataques a possíveis candidatos eleitorais, que não fossem de seu agrado.
Vasco Pulido Valente*, refere os seguintes sucessos ocorridos no Porto, realizados por grupos similares a este:
No Porto, o Jornal de Noticias” teve menos sorte. Irritados com um editorial «anti-republicano», os activistas locais fizeram-lhe à bomba uma crítica autenticamente devastadora.”
Verdade ou não o fabrico de bombas tornara-se um desporto perigosamente popular. Em Março, um barbeiro de Miragaia teve um pequeno acidente de trabalho e destruiu três prédios, matando-se a si próprio e mais sete pessoas.”
Não admira que só no cemitério de Miragaia um policia distraído tivesse encontrado mais de 3000 bombas.”

*O poder e o povo – A revolução de 1910, pag 265 e 266 - Publicações D. Quixote - 1975

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Os Carrapatas*

No início do Regime Republicano foram formados inúmeros grupos radicais de defesa da república. Estes grupos eram compostos sobretudo por membros da carbonária e eram encorajados por Afonso Costa, com o apoio tácito, mas silencioso de Magalhães Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. A partir do Outono de 1911, Afonso Costa lança-os contra todos aqueles que lhe disputam o poder no cada vez mais dividido Partido Republicano. Os grupos radicais tomam o poder nas ruas, onde apenas Afonso Costa podia andar desarmado. António José de Almeida, líder do grupo evolucionista e republicano moderado foi várias vezes atacado (Raul Brandão – Memórias), tendo mesmo chegado a usar armas para defender a própria vida.
Durante as eleições constituintes de 1911, os carrapatas foram fundamentais para impedirem o aparecimento de listas de candidatos não Republicanos.
Rapidamente estes grupos radicais transformaram-se num poder paralelo.
No entanto o feitiço voltou-se contra o feiticeiro. Afonso Costa que após chegar ao poder (Janeiro 1913) recusou as recompensas que os membros destes grupos radicais (Carrapatas) julgavam ter direito, por terem sido os principais responsáveis pela sua subida ao poder. Costa passou a ser considerado “Moderado” (Sob o ponto de vista dos Radicais) e depressa se tornou num alvo a abater. Apenas passados 4 meses, ocorreu o pronunciamento de 27 de Abril de 1913 (Primeira revolta de republicanos contra republicanos)
*Adaptado da História de Portugal – Vol IX – Coordenação de José Matoso