segunda-feira, janeiro 31, 2005

Lançamento de um Jornal

Em 29 de Julho, Simas Machado recebe mais uma missiva do seu grande amigo, Alfredo de Magalhães, que nessa altura lutava com todas as suas forças, para lançar o Jornal “O Rebate”.

Meu caro Simas

Lemos a notícia com interesse e tiramos dela as devidas conclusões…
O jornal sairá Sexta-Feira à noite. O trabalho e as preocupações que ele me tem dado são inenarráveis. Vamos a ver a sorte dele. Saberia você daí dar-me uma mão? Luto desesperadamente para conseguirmos levantar este país, cuja situação está cada vez mais grave. Faço prodígios e sacrifícios que deixam a perder de vista os do Dr. Bernardo… e sinto que me esgoto por falta de cooperação.
Para lançar o Rebate ainda encontrei um amigo, um correligionário que me obtém um preço do dinheiro que não chega a nada, e c’est tout…
Se eu conseguisse levantar num banco ou num particular 2 contos de reis, o sucesso do jornal seria absolutamente assegurado. Tenho propriedades no Douro, que sacrificaria corajosamente, se fosse possível; mas não é… Meu pai deixou-as fortemente oneradas, derruídas. O meu dever é entregá-las aos credores para lhe honrar a memória.
O Ricardo Malheiros(1) muitas vezes me facilitou descontos no Banco Comercial desde que eu lhe desse a firma de um comerciante a garantir a minha; este recurso não o tenho hoje porque um ou dois nomes que serviriam para o efeito militam hoje em campos políticos adversos… Não poderia você arrancar ao Ricardo um favor desta ordem?
Agora vou tratar de organizar a empresa do jornal por acções de dez mil reis. Terá a possibilidade V. de passar algumas por amigos na província? Também nos interessa muito angariar boa assinatura. È outra maneira de assegurar a vida da gazeta. Portanto, meu caro Simas, com a orientação que vamos imprimir no Rebate, vamos abrir uma brecha em tudo isto, e brecha funda, a questão é a de dispormos carvão para aquecer a fornalha.
Não tenho dúvidas que lhe falta a você fé, porque a minha é inesgotável, e no dia em que ela me abandonar, porque é ainda a única razão da minha vida, acabarão os meus tormentos.
A ”Luta”(2) atravessa uma crise fatal. Jantou comigo o administrador há dois dias e disse-me que tentavam de liquidar tudo, até pediu-me para ficarmos com algum material. Em todo o caso move-lhe todo o interesse para salvar o barco, isto é, salvar-se…
Recebi pelo Pimenta(3), o seu aviso amigo acerca de eleições, mas não tentarei, pois enquanto o jornal estiver de choco completamente. É uma questão de dias.
E para rematar: Ajude-me se pode e como quiser. A vitória será nossa; A situação é cada vez mais precária. É impossível
Um Abraço

Alfredo

(1) – Era padrinho de casamento de Victória Machado, filha do General;
(2) – Jornal de Brito Camacho, líder da União Republicana
(3) – Adriano Pimenta, governador-civil de Viana do Castelo, Ministro, deputado e Senador, manterá correspondência com Simas Machado até à morte deste.

domingo, janeiro 30, 2005

Floro Henriques

Comandante das forças de Coimbra em 1913, era um importante maçon, em 1914, obreiro da Loja Portugal, ao Vale de Coimbra e que pertenceu ao executivo do Congresso da Maçonaria Nacional realizado no Porto em Maio de 1914 (dias 19 a 23 de Junho), tendo no ano anterior (1913) estado presente como conferencista no Congresso Nacional Maçónico.

Ecos de Coimbra

A 27 de Julho, Raimundo Meira recebe esta missiva proveniente da Administração do Concelho de Coimbra e assinada por Marcos Martins


Meu excelentíssimo Amigo

Recebi as duas cartas de Vexa. Lastimo que os homens de Lisboa não hajam tido o talento para o conservar durante mais algum tempo em Coimbra.
Temos trabalhado por desfazer entre os correligionários a má impressão que os últimos acontecimentos deixaram, mas afinal com pouco proveito.
Vejo-me isolado. No entanto não desanimo. Já estive com o Doutor Luciano, mas nem quer ouvir falar de política. Quando abordo o assunto, desvia-se imediatamente da conversa.
Dizem que vem para cá o Pereira Rosa. Oxalá não venha a liquidar, como a outros tem sucedido. Os jornais da terra têm-se referido a Vexa com uma ou outra frase, procurando fazer espírito, mais nada.
Dizem também que vão mandar para cá um Comissário de Polícia sem darem qualquer coisa ao Floro Henriques. É um mal que trás consequências nefastas. Primeiro deviam dar-lhe uma satisfação. Estou a ver que é outro carrapata … e eu não os aturo por muito tempo! Estou farto.
Não me tem sido possível arranjar os nomes inteiros das pessoas a quem Vexa deverá agradecer cumprimentos. Amanhã mandarei a lista completa. Não diga que sou descuidado?! Faltam-me elementos! Demais, os homens não esperam por isso, segundo o que a alguns tenho ouvido.
E por hoje basta. No entanto, eu quero dizer a Vexa que não esquecerei todas as deferências que teve comigo durante a sua estada em Coimbra e que pode contar comigo como amigo dedicado.

Marcos Martins


Não foi possível saber quem era Marcos Martins, nem que lugar ocupou durante este período.

Regresso à normalidade

No dia 15 de Julho é nomeada pelo governo a nova Comissão administrativa do Concelho de Coimbra, presidida por Falcão Ribeiro.
Uma vez restabelecida a normalidade em Coimbra, Raimundo Enes Meira abandona Coimbra, em 16 de Julho, voltando a reassumir o cargo de Governador Civil de Viana do Castelo. A actuação de Raimundo Meira em Coimbra, mereceu por parte de figuras Republicanas do Distrito uma homenagem na forma de um Pic-nic na Quinta de São Marcos.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Luis Inocêncio Ramos Pereira (1870-1938)

Nasceu em 18 de Setembro de 1870 no Porto, filho de José Bento Ramos Pereira e Maria Gertrudes da Silva Pereira.
Formou-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1897 com a tese "A cocaína na cirurgia".
Foi médico municipal em Coimbra, inspector da Procuradoria Central de Lisboa e inspector e prove­dor da Assistência de Lisboa.
Militante do Partido Republicano Português, era Presidente da Comissão Municipal de Caminha deste partido na época do Ulti­mato britânico. A partir de Novembro de 1910 exerceu as funções de adminis­trador, por parte do governo, junto da Companhia do Niassa. Foi eleito depu­tado à Assembleia Constituinte (1911) e senador em todas as legislaturas (à excepção da de 1918), pelo círculo de Viana do Castelo, nas listas do Partido Republicano Português.
Morreu em Lisboa a 22 de Julho de 1938.
Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República

sábado, janeiro 22, 2005

Assuntos Minhotos

O facto de ter sido nomeado Delegado especial do Governo em Coimbra, Raimundo Meira não abandonou os assuntos do Distrito de Viana e nesse mesmo dia escreve a Luís Ramos Pereira, sobre uma notícia publicada no Diário de Noticias, relativa a uma sindicância à Escola Normal de Viana do Castelo.



Meu Caro Ramos Pereira

Acabo de ler no Diário de Notícias a notícia que vai ligada a esta carta. Devo-te informar lealmente que se a notícia é verdadeira, logo que chegue a Lisboa (espero que isso aconteça na 2ª Feira) peço a demissão de Governador Civil de Viana.
Castigue-se quem o mereça, mas não há de ser com o meu consentimento que se hão de proteger patifes e inimigos da República.
Positivamente não sirvo para essa política.
A sindicância deve abranger todos e não pode parar porque eu não quero sujar-me nessa porcaria. Devo também dizer que hei-de tornar público o motivo da minha demissão.


A Resposta de Ramos Pereira foi rápida, tendo escrito a Raimundo Meira logo no dia seguinte, 11 de Julho de 1913


Meu caro Meira

Recebi a tua carta de ontem à qual vou responder.
Vi a jornal a que te referes e tenho a dizer-te o que já aqui te disse.
Não me importo nada que a sindicância continue, pois ela só fará sobressair os professores com quem mandou o Lagido e o Alves de Sousa.
As sindicâncias têm sempre um grande lado moral e não serei eu que contrarie os teus pontos negros.
Parece-me isto, assunto liquidado mesmo porque do Diário de Noticias não quer dizer que não se fará, ou antes não continuará, pois segundo me disse hoje o Alfredo Pinto, foi somente para não dar a demissão ao Lopes d’Oliveira que várias vezes pediu ao Ministro por causa da do liceu.
Confirmo o meu telegrama e já pedi audiência ao Presidente para lhe fazer o pedido.
Tenho muito poucas ocasiões de falar contigo, pelo que peço que me digas o dia e as horas certas da tua chegada.
De Valença, o presidente da comissão administrativa da Câmara devolveu a ordem para receber os 50$00 escudos, dizendo em ofício nada ter pedido. É um assunto que necessitamos de ver.
Estou ansioso que voltes para Viana onde fazes imensa falta.

Manda sempre
Teu
Luís Ramos Pereira

Não consegui obter mais informações sobre os motivos da sindicância

quarta-feira, janeiro 19, 2005

O fim da Greve

O braço de ferro continuou durante mais 4 dias. No próprio dia 5, Raimundo Meira manda distribuir editais, com as informações constantes do telegrama, que são imediatamente rasgados, tal como noticia o Diário de Noticias na sua edição de 6 de Julho de 1913:
Apareceram rasgados os editais do Governo Civil participando não ser verdade que seja extinta a faculdade de Direito em Coimbra, pois que tudo continuará até aqui
No dia anterior, o Jornal “O Mundo” (Porta-voz do Partido Democrático) publicava uma carta de Afonso Costa, Presidente do Conselho, em que este desmentia a promessa de não criar a faculdade de Direito de Lisboa.
"O Sr. Afonso Costa limitou-se a explicar as razões que determinavam que os exames de Direito se fizessem em Lisboa e afirmou que não desdobraria a Faculdade de Direito como consequência dos acontecimentos de Coimbra. O Sr. Afonso Costa, com efeito, não desdobrou a Faculdade de Direito. E o Sr. Rodrigo Rodrigues, que, como Ministro do Interior, apresentou uma proposta criando a Faculdade de Direito de Lisboa, não o fez por motivo dos acontecimentos de Maio. A criação da faculdade de Direito era um velho compromisso dos republicanos, e que o Sr. Dr. Afonso Costa, quando ministro do governo provisório, afirmou de maneira clara aos representantes de Coimbra que, por sua parte, não mudara de ideias."

No dia 9 de Julho, a comissão de resistência desconvocou a greve, sem que o governo tenha cedido às suas reivindicações, apesar deste ter feito uma promessa, muito vaga, de “melhoramentos”.
No dia seguinte, Raimundo Meira escreve a seguinte carta a destinatário desconhecido, provavelmente o Ministro do Interior, Rodrigo Rodrigues.

Como disse no meu telegrama de hoje, a cidade voltou completamente à nor-malidade. Operários e comerciantes estão já cansados e os segundos com enormes prejuízos. Se não andassem exploradores políticos envolvidos no movimento, isto devia ter terminado na Segunda-Feira.
Creio ter seguido rigorosamente as instruções que recebi de Vexa.
Fui procurado por diversas comissões e indivíduos dizendo-lhes em resumo o seguinte:
1.º- Que o governo não suspendia a lei que criava a faculdade de direito.
2.º Que o governo tinha em harmonia com os interesses gerais do país, resol-vido tomar um certo número de medidas, algumas das quais beneficiaram altamente Coimbra. Que isto estava já resolvido anteriormente à criação da faculdade em Lisboa e que por certo o governo prosseguiria no plano traçado uma vez terminado o estado anormal de Coimbra. Que enquanto durasse este estado, nada se podia tratar e que o governo também não tratava com entida-des estranhas à cidade de Coimbra.
Nunca lhes disse o que o governo tencionava fazer.
A moção aprovada no comício de ontem termina dizendo que a cidade retoma-va o trabalho, que não pede compensações por julgar que coisa alguma a pode compensar dos prejuízos sofridos e resolve nomear uma comissão para tratar da defesa da Universidade. É como Vexa vê, um pouco diferente da que ontem telegrafei.
Estou convencido que já não haverá alterações da ordem. Em todo o caso parece-me conveniente conservar aqui a Guarda Republicana até à posse da comissão municipal administrativa, cuja lista dos nomes enviei hoje pelo cor-reio. Há conveniência que fosse publicada o mais brevemente possível no Diá-rio do Governo. Nas comissões de resistência e donativos, figuram diversos empregados públicos, mas parecia-me conveniente para isto se apaziguar por completo não tomar conhecimento disso. V. Exa. dirá como devo proceder.
A Câmara Municipal é que tem responsabilidades graves, porque para além de ter mandado pôr a Bandeira Nacional a meia-haste, consentiu na paraliza-ção dos serviços eléctricos e outros serviços municipalizados. Creio mesmo que foi a câmara que mandou parar esses serviços causando assim grandes prejuízos à fazenda da própria câmara. Uma sindicância é talvez a única maneira de apurar essas responsabilidades.
Enfim para isto sossegar o mais brevemente possível e até por conveniência política parecia-me que:
1.º - A nova comissão administrativa deve tomar posse, o mais brevemente possível;
2.º - Esquecer tudo o que se tem passado com excepção dos actos praticados pela câmara.

Como a ordem já está completamente restabelecida era conveniente que fosse nomeado já o novo Governador-Civil porque tem muito que fazer no que diz respeito à política do Distrito, sendo vantajoso que não entrasse, por agora, em exercício o substituto, dada a situação em que se encontra.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Rodrigo José Rodrigues (1879-1963)

Nasceu em Britelo (Celorico de Basto), em 1879. Concluído o curso liceal em Lamego, ingressou, em Lisboa, na Escola Médico-Cirúrgica, alcançando o bacharelato em Medicina (1902).
Tendo seguido a carreira de oficial do Exército, foi médico militar do Quadro Colonial, com ser­viços prestados em Cabo Verde (1903) e na India (1904-1910).
Desempenhou também os cargos de reitor do Liceu de Goa e de professor da Escola Médica local, de director penitenciário (a partir de 1910), de membro do Conselho Colonial (1912-1919), de administrador e director das prisões (1919), e de ins­pector das Escolas Primárias Superiores (até 1926). No domínio político, man­teve sempre a filiação no Partido Republicano Português. Membro da Liga Académica Republicana, viria a ser governador civil de Aveiro (1911) e do Porto (1911), e deputado por esta cidade (1913), antes de sobraçar a pasta do Interior entre 9 de Janeiro de 1913 e 9 de Fevereiro de 1914. Terminada a sua actividade governamental, regressou à Câmara dos Deputados em representa­ção de Lisboa (1915, 1921 e 1922). Preso em 1918, viria ainda a ser governador de Macau, nos anos de 1922 a 1924, e secretário da delegação portuguesa à Sociedade das Nações, entre 1925 e 1926/27. Demitido do serviço pela Dita­dura Militar, passou à reforma como capitão-médico. Foi autor de vasta biblio­grafia. Morreu em Oliveira de Azeméis, a 19 de Janeiro de 1963.Era membro influente da Família Rodrigues, chamada também de Casa-Civil de Afonso Costa, irmão de Daniel Rodrigues e de Urbano Rodrigues.
Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República

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sábado, janeiro 15, 2005

Ordens Telegráficas

A 5 de Julho de 1913, Raimundo Meira recebe as seguintes ordens telegráficas, enviadas pelo Ministro do Interior, Rodrigo Rodrigues em resposta a um telegrama seu, em que informava o ministro da reunião tida com a comissão de resistência no passado dia 3, com o objectivo de clarificar a posição governamental relativamente ao futuro da Universidade.

Do telegrama de vexa referente as indicações feitas pelo presidente da comissão distrital, concluo que nessa cidade se não conhece termos em que foi creado o curso jurídico aqui, não sofrerá em nada a universidade e faculdade de direito ahí, que continua integralmente com seu regulamento pessoal etc. sem a menor alteração de facto, não há desdobramento como falsamente se disse.Conveniente fazer disto conhecimento público para impedir especulação e situação fica a mesma da faculdade de medicina. Ministro interior,


sexta-feira, janeiro 14, 2005

Coimbra Unida (2ª Parte)

No dia 4 de Julho (Sexta-Feira) continuava o braço de ferro. Em face da recusa em recomeçar o serviço dos eléctricos, Raimundo Meira chama ao Governo-Civil todos os empregados, onde lhes foi novamente ordenado, em vão, que voltassem ao trabalho. Mesmo perante a ameaça de sanções legais (suspensão durante 6 meses) mantêm a recusa.
As cooperativas de consumo dos empregados públicos são abertas à força pela GNR e mantidas sob a sua vigilância.
Na sua edição de 5 de Julho, o Diário de Noticias, aborda a “Questão de Coimbra” é Abordada em editorial.

[...]Queixam-se os Conimbricences de que inesperadamente, e quando, em seguida a conflitos de que só lhe provieram prejuízos e desgostos. Aliás facilmente sanáveis, esperavem por parte do governo resoluções compensadoras , o parlamento lhes agravou a situação, votando de afogadilho, sem ponderação nem estudo, o desdobramento da faculdade de Direito da sua Universidade. E nesta parte, até mesmo aos que entenderam que o ensino de qualquer disciplinas não deve constituir monopólio de qualquer escola, por muito respeitável que esta seja, merece reparo e censura a forma como decorreu a apresentação da discussão (se discussão pode dizer-se que houve naquele tumultuoso levantar de sessão)* da proposta ministerial referente ao aludido desdobramento que, segundo entendem os reclamantes virá a afectar os interesses de Coimbra e os brios da sua Universidade tantas vezes secular.[...]
[...] Urgente nos parece pois, que, por forma que não se firam os interesses legitimos, nem os brios respeitáveis da formississima cidade do Mondego, à qual tantos milhares de corações de novos e de velhos bachareis se prendem por laços de inextinguível saudade, se encontre uma solução imediata e honrosa para o conflito. Nem aconselhamos a Coimbra que seja intransigente, porque também não concordamos com alguns dos meios de que lançou mão para afirmar o seu protesto e evidenciar o seu desgosto, nem aplaudiremos que o governo deixe sem imediatas e insofismáveis compensações, os danos que o desdobramento da faculdade de Direito vai causar à Universidade e á terra que, por assim dizer consubstancia. [...]

* - Nessa mesma sessão, O Senador João de Freitas tentou assassinar Artur Costa (irmão de Afonso Costa). João de Freitas no meio de uma discussão sobre assuntos menos lícitos de uma compahia agricola de São Tomé e Principe, dirigida por Afonso Costa, empunhou uma pistola automática que apontou a Artur Costa. No ultimo momento foi detido por Miranda do Vale, que ficou ferido numa mão com o disparo efectuado.

Coimbra Unida (1ª Parte)

No dia 3 de Julho, a Comissão de Resistência conferencia com Raimundo Enes Meira, tendo pedido que este não mandasse as forças militares para a rua, de modo a evitar confrontos desnecessários, e sublinhou o carácter pacífico da greve.
No mesmo dia, Raimundo Meira dá ordem para que os eléctricos voltassem a operar, ordem que não foi acatada.Na realidade, segundo o que o Diário de Noticias escreve nesses dias, verificava-se em Coimbra um espirito de união e civismo, raro em Portugal, tanto nessa altura como hoje em dia. Noticiava o referido Jornal, na sua edição de 4 de Julho de 1913:
A cidade mantém um aspecto desolador desde Domingo. Os estabelecimentos comerciais e industriais todos fechados e obras paralisadas. Nos centros principais, como na praça 8 de Maio e suas proximidades permanece grande concurso de populares, mas todos na melhor ordem, sem o menor motivo para a intervenção da autoridade . Nunca se viu um movimento assim.
As padarias fornecem, cada uma, 8 Kg de pão por dia aos grevistas
Os negociantes de Sardinha oferecem todos os dias, cada um, um cabaz de Sardinha.
Foi feita hoje a inscrição dos operários que mais precisam de receber socorros.
Amanhã, no teatro Avenida, serão distribuídos ao operariado, arroz, bacalhau, azeite e petróleo.
A federação das associações e a União Geral dos Trabalhadores, pondo de parte desintelingências trabalham de comum acordo para o subsídio aos operários e demais trabalhadores em greve.Alguns soldados da GNR, têm ido às casas de pasto para comer, mas não o conseguem, em vista de estarem também em greve estas casas. Isto tem feito contrariar os militares.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Governo responde à greve geral

Em 21 de Junho de 1913, Raimundo Meira é nomeado Governador Civil de Viana do Castelo, e nessa qualidade desloca-se a Lisboa em 30 de Junho para conferenciar com o Ministro do Interior Rodrigo Rodrigues e com o Ministro do Fomento António Maria da Silva, de acordo com o Diário de Noticias de 01/07/1913.
O mesmo jornal publica em 1 de Julho a seguinte nota oficiosa emanada do Ministério do Interior:
Por ordem de Sr. ministro do interior, partem hoje de manhã para Coimbra, em comboio especial, 100 praças de infantaria e cavalaria da guarda republicana. O mesmo ministro submeteu ontem, à assinatura do Sr. Presidente da República, um decreto exonerando o Sr. João de Deus Ramos de Governador civil de Coimbra e um outro nomeando delegado especial do governo naquele distrito o capitão Raimundo Enes Meira, governador civil de Viana do Castelo.
O Sr. Capitão Meira parte hoje de manhã do Porto para Coimbra, onde se lhe juntará o Sr. Beja da Silva, comissário de Policia de Aveiro, em serviço no gabinete do Sr. Ministro do interior, e que hoje mesmo assumirá a administração do distrito de Coimbra.
O Governo, tendo conhecimento de que há exploradores no movimento de protesto que se vem praticando naquela cidade, deu ordens ao seu delegado especial para proceder rigorosamente contra eles. O governo também não permitirá que os estabelecimentos de venda de géneros alimentícios em Coimbra se mantenham por muito mais tempo fechados. Ainda outras medidas serão tomadas, para o restabelecer a normalidade naquela cidade.

Coimbra em Greve Geral

Em Junho e Julho de 1913, esteve à discussão no Congresso da República um projecto de lei da comissão do orçamento do ministério do interior, para a dissolução e encerramento da Universidade de Coimbra. Em 28 de Junho este projecto de Lei foi rejeitado, aparecendo no seu lugar o “desdobramento” da faculdade de direito, que não estava anteriormente previsto.
A reacção em Coimbra foi enorme, independentemente da rejeição da proposta de encerramento da Universidade, os comerciantes também viam no desdobramento o fim económico da cidade.
No dia 29 de Junho, a comissão distrital depõe o seu mandato ao Governador-Civil (João de Deus Ramos). Nesse mesmo dia, a Associação Comercial de Coimbra, reúne-se e vota por unanimidade o encerramento de todos os estabelecimentos comerciais e industriais da cidade.
No dia 30 de Junho a praça de Coimbra suspende todos os pagamentos.
No dia 1 de Julho a greve é geral e Coimbra está totalmente paralizada tal como noticia o Diário de Noticias de 3 de Julho de 1913:
A cidade mantém os seus estabelecimentos comerciais e industriais encerrados, tendo-se estendido a greve a outras classes que ainda ontem não se tinham declarado.
A associação de artes-gráficas resolveu não se deixar que se publicassem os jornais desta cidade e encerrar todas as tipografias. […] Está paralisado o serviço dos eléctricos, luta-se com a impossibilidade de obter meio de transporte, quer dentro da cidade, quer para viagem. […] Muitos operários da construção civil estão em greve; também o estão os das obras municipais excepto das águas e gás. […] Vêem-se muitas bandeiras a meia-haste. […] Foram hoje queimados, no Largo Miguel Bombarda muitos exemplares de um jornal de Lisboa afecto ao governo.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Olha o Boné!


De 24 a 28 de Maio de 1913, teve lugar o Roubo do boné! Ou o Olha o boné! Conflito que se travou, em 1º lugar, entre os estudantes e a polícia, depois entre os estudantes e os futricas e, finalmente, entre os estudantes e a Guarda Nacional Republicana.
Tudo começou quando a policia, às ordens do comissário Floro Henriques, agrediu académicos, que se defenderam, no Teatro Avenida, num espectáculo efectuado na noite de Sábado, 24 de Maio.
Na tarde de 28 de Maio veio a dar-se o acontecimento que havia de designar este grave conflito de Maio de 1913.
Sucedeu que o tenente que comandava a G.N.R. foi almoçar a um restaurante da Alta, deixando o boné da farda pendurado num bengaleiro. O estudante madeirense Sebastião Fernandes não esteve com meias medidas e, sub-repticiamente, apoderou-se do dito boné, conquista de que teve conhecimento imediato a Academia.
Foi o delírio! Por toda a noite do dia 28, e no da seguinte, Quinta-feira, os apupos e as troças dos estudantes à G.N.R. choveram por todos os lados. Os gritos de Olha o boné! Oh, Floro, dá o boné ao tenente! Dá cá o boné! Ecoaram por toda a cidade, para gáudio e vingança dos estudantes.
Na Quinta, 29 todos os estudantes presos foram enviados ao tribunal e após terem sido lavrados termos de identificação, postos em liberdade.
Na Sexta-feira, apareceu afixada "A canção do Boné"
A canção do boné

O tal tenente da guarda
Nem já pensa no banzé,
Anda a ver se deita a garra
Ao larápio do boné.

Ó Floro, ó comissário
Não sejas tão inclemente,
Entrega o boné roubado
Ao desgraçado tenente.

E durante muitos anos, os académicos festejaram a data de 27 de Maio, festejos que, posteriormente, se confundiram com a Queima das Fitas, cujo cortejo de carros e queima do grelo decorriam sempre naquele dia.
A ACADEMIA DE COIMBRA (1537-1990) – Lamy, Alberto de Sousa, Rei dos Livros, 1990 –
Texto amavelmente enviado pelo Almocreve das Petas

segunda-feira, janeiro 03, 2005

A Crise Coimbrã

O seguinte texto, dividido em dois postais é retirado do Livro "A ACADEMIA DE COIMBRA (1537-1990)" de Alberto de Sousa Lamy editado pela Rei dos Livros em 1990, o qual foi gentilmente enviado pelo Almocreve das Petas.
A 22 de Março de 1911, foram criadas as Universidades de Lisboa e do Porto, o que se traduziu, na prática, à transformação em Universidades das Escolas Politécni­cas daquelas duas cidades.
A criação das novas Universidades, grande golpe dado na Universidade de Coimbra, descontentou o comércio desta cidade e não satisfez, plenamente, a totalidade dos estu­dantes, pois uma grande parte deles exigia o desdobramento da Faculdade de Direito.
Em Abril, mais de 400 académicos assinam um manifesto pedindo esse desdobra­mento e atacando o dr. António José de Almeida; em Outubro é distribuído outro manifesto, do Grupo dos Estudantes Revolucionários de Coimbra, no mesmo sentido.
Iniciou-se imediatamente uma reacção, organizada, veemente, em que entrava uma grande parte da Academia, lentes, comerciantes, industriais, proprietários, futricas, a população de Coimbra quase em peso, contra a campanha do desdobramento, que iria provocar a ruína da Universidade, da cidade inteira, dos milhares de pessoas que viviam à custa dos estudantes.
E um manifesto enérgico apareceu, espalhado por toda a parte e por toda a parte discutidíssimo, como tudo o que em Coimbra interessa a opinião académica. O mani­festo chamava aos que protestavam contra o exclusivo do ensino de Direito na Univer­sidade um grupo de degenerados com criminosas intenções, que, odiando Coimbra, preten­dem o seu completo aniquilamento. Terminava com vivas à Pátria, à República, à Universidade de Coimbra e abaixo os traidores! A excitação era crescente; temia-se a cada momento um conflito gravíssimo. Um grupo mais exaltado fizera à Porta Férrea um auto de fé, em que a Desafronta, o livro máximo da revolta, até ali o guia da Acade­mia liberal, foi queimado ostensivamente, no meio de gritos, de morras e de vaias ao autor, a quem acusavam de traição e era agora o ministro do Interior da República nascente - António José de Almeida.

Agradecimentos

Este blogue agradece as distinções que lhe foram conferidas pelos colegas da Blogoesfera Nova Frente e Almocreve das Petas.
Obrigada pelo estimulo.