quarta-feira, janeiro 19, 2005

O fim da Greve

O braço de ferro continuou durante mais 4 dias. No próprio dia 5, Raimundo Meira manda distribuir editais, com as informações constantes do telegrama, que são imediatamente rasgados, tal como noticia o Diário de Noticias na sua edição de 6 de Julho de 1913:
Apareceram rasgados os editais do Governo Civil participando não ser verdade que seja extinta a faculdade de Direito em Coimbra, pois que tudo continuará até aqui
No dia anterior, o Jornal “O Mundo” (Porta-voz do Partido Democrático) publicava uma carta de Afonso Costa, Presidente do Conselho, em que este desmentia a promessa de não criar a faculdade de Direito de Lisboa.
"O Sr. Afonso Costa limitou-se a explicar as razões que determinavam que os exames de Direito se fizessem em Lisboa e afirmou que não desdobraria a Faculdade de Direito como consequência dos acontecimentos de Coimbra. O Sr. Afonso Costa, com efeito, não desdobrou a Faculdade de Direito. E o Sr. Rodrigo Rodrigues, que, como Ministro do Interior, apresentou uma proposta criando a Faculdade de Direito de Lisboa, não o fez por motivo dos acontecimentos de Maio. A criação da faculdade de Direito era um velho compromisso dos republicanos, e que o Sr. Dr. Afonso Costa, quando ministro do governo provisório, afirmou de maneira clara aos representantes de Coimbra que, por sua parte, não mudara de ideias."

No dia 9 de Julho, a comissão de resistência desconvocou a greve, sem que o governo tenha cedido às suas reivindicações, apesar deste ter feito uma promessa, muito vaga, de “melhoramentos”.
No dia seguinte, Raimundo Meira escreve a seguinte carta a destinatário desconhecido, provavelmente o Ministro do Interior, Rodrigo Rodrigues.

Como disse no meu telegrama de hoje, a cidade voltou completamente à nor-malidade. Operários e comerciantes estão já cansados e os segundos com enormes prejuízos. Se não andassem exploradores políticos envolvidos no movimento, isto devia ter terminado na Segunda-Feira.
Creio ter seguido rigorosamente as instruções que recebi de Vexa.
Fui procurado por diversas comissões e indivíduos dizendo-lhes em resumo o seguinte:
1.º- Que o governo não suspendia a lei que criava a faculdade de direito.
2.º Que o governo tinha em harmonia com os interesses gerais do país, resol-vido tomar um certo número de medidas, algumas das quais beneficiaram altamente Coimbra. Que isto estava já resolvido anteriormente à criação da faculdade em Lisboa e que por certo o governo prosseguiria no plano traçado uma vez terminado o estado anormal de Coimbra. Que enquanto durasse este estado, nada se podia tratar e que o governo também não tratava com entida-des estranhas à cidade de Coimbra.
Nunca lhes disse o que o governo tencionava fazer.
A moção aprovada no comício de ontem termina dizendo que a cidade retoma-va o trabalho, que não pede compensações por julgar que coisa alguma a pode compensar dos prejuízos sofridos e resolve nomear uma comissão para tratar da defesa da Universidade. É como Vexa vê, um pouco diferente da que ontem telegrafei.
Estou convencido que já não haverá alterações da ordem. Em todo o caso parece-me conveniente conservar aqui a Guarda Republicana até à posse da comissão municipal administrativa, cuja lista dos nomes enviei hoje pelo cor-reio. Há conveniência que fosse publicada o mais brevemente possível no Diá-rio do Governo. Nas comissões de resistência e donativos, figuram diversos empregados públicos, mas parecia-me conveniente para isto se apaziguar por completo não tomar conhecimento disso. V. Exa. dirá como devo proceder.
A Câmara Municipal é que tem responsabilidades graves, porque para além de ter mandado pôr a Bandeira Nacional a meia-haste, consentiu na paraliza-ção dos serviços eléctricos e outros serviços municipalizados. Creio mesmo que foi a câmara que mandou parar esses serviços causando assim grandes prejuízos à fazenda da própria câmara. Uma sindicância é talvez a única maneira de apurar essas responsabilidades.
Enfim para isto sossegar o mais brevemente possível e até por conveniência política parecia-me que:
1.º - A nova comissão administrativa deve tomar posse, o mais brevemente possível;
2.º - Esquecer tudo o que se tem passado com excepção dos actos praticados pela câmara.

Como a ordem já está completamente restabelecida era conveniente que fosse nomeado já o novo Governador-Civil porque tem muito que fazer no que diz respeito à política do Distrito, sendo vantajoso que não entrasse, por agora, em exercício o substituto, dada a situação em que se encontra.