quarta-feira, março 09, 2005

Assuntos pendentes

Raimundo Meira escreve ainda ao Ministro da Instrução (Sousa Júnior) tentando encerrar vários assuntos pendentes neste ministério, antes de abandonar o cargo de Governador-Civil.

Confirmo o meu telegrama de hoje.
Mesmo sem as vantagens que tinha até 31 de Dezembro, eu continuaria neste lugar se isso fosse útil ao nosso partido porque foi somente com esse fim que o aceitei em Junho passado. Ninguém pode exercer bem um cargo destes sem que os governadores estejam convencidos que se tem todo o apoio e força do governo. …… Esse cargo não se dava comigo. E não se dava comigo pelas seguintes razões: O Sr. Ministro da Instrução prometeu-me, na presença do Presidente do Concelho e do Sr. Artur Costa nomear um professor dos Arcos, inspector. Esse professor, está nas perfeitamente nas condições porque é distintíssimo. Empenhava-se por ele um influente político do concelho dos Arcos e o Sr. Ministro da Instrução disse-me que lhe podia dizer que a nomeação se faria mas não para o círculo dos Arcos como o professor desejava.
Esses homens trabalharam dedicadamente nas eleições, mas a nomeação não se fez até hoje apesar de já ter insistido por ela.
O facto de se não ter nomeado o Dr. José Guimarães para qualquer parte tem causado também um efeito engraçadíssimo entre os influentes amigos dele.
Essa nomeação porém, estou certo há de se fazer porque Vexa assim o prometeu.
Outras pequeníssimas coisas tenho ainda pelo ministério da instrução, mas vamos ao final que é mais forte.
Tinha pedido ao ministro da instrução que modificasse um pouco o parecer do concelho superior de instrução pública acerca do castigo a impor ao director da escola normal desta cidade, isto é, pedir-lhe que não o transferisse. E pedi-lhe isto porque conhecia bem a origem da campanha contra o referido professor e portanto a revoltantíssima injustiça da punição, pois da própria sindicância se vê que ele é talvez o menos culpado de todo o pessoal daquela escola, mas muito principalmente porque fazendo-se o que eu pedia praticava-se um acto de justiça e obtinham-se óptimos resultados políticos.
O Sr. Ministro, pelo que li nos jornais, se reparou no meu pedido foi para agravar o castigo.
Não houve uma pessoa honesta em Viana que não se revoltasse ao ler nos jornais, tanto mais que todos sabem o que se passou naquela escola e ultimamente no liceu, como o sabe muito bem o Sr. ministro. Mas os resultados vão se ver nas próximas eleições e o senador Ramos Pereira, principal culpado disto tudo, verá os resultados do seu trabalho.
Este facto vai servir de pretexto a alguns elementos que ainda não se tinham manifestado passarem para a oposição.
E para finalizar permita V. Exa. que como dedicado correligionário me parece conveniente para a política partidária nesta região.
Era conveniente nomear um Governador-Civil que tenha todo o apoio do governo, que conheça o distrito e que nada se faça aqui sem ele ser ouvido. Isto é absolutamente indispensável e eu digo-o francamente porque já me não considero Governador-Civil. Se não se fizer isto, este distrito que devia ser um baluarte Democrático pode perder-se muito rapidamente. (a)
Ao meu sucessor indicarei um certo número de medidas que julgo ser preciso tomar e por em execução com urgência se não quiser que tudo se perca.
Agradecendo a continuação e a confiança, que em si depositou

(a) Para isso trabalham afincadamente as oposições servindo-se de todos os meios
.