quarta-feira, abril 13, 2005

Poder total

Ao contrário de hoje em dia, na primeira républica não existia separação de poderes. A magistratura dependia do poder político. A colocação de magistrados era um bom meio de compadrio e de manutenção do poder, por parte de quem o detinha.
A 5 de Março Raimundo Meira recebe uma carta de Damião Lourenço Júnior relativa à promoção de um Delegado do Ministério Público a Juiz e à sua colocação em Paredes de Coura, desejo de Raimundo Meira

Lisboa, 5 de Março de 1914

Meu caro amigo

Acabo agora mesmo de falar com o Dr. Germano Martins(1) sobre o assunto da carta de V. Exa., dizendo-me ser absolutamente impossível a colocação em Paredes de Coura do Sr. Justino Correia.
Não me parece que haja qualquer compromisso com Paredes de Coura, mas o que o Germano alega é que um delegado promovido a juiz, ficou em nenhuma comarca do Minho e que tal excepção seria uma grande imoralidade.
Eis o que me ofereceu imediatamente, conforme a sua especial recomendação.
Dos memoriais que me enviou vou tratar amanhã.
Como estou certo que o sucessor de V. Exa. será o Maia Pinto e que não demorará muito a o substituir. Oxalá continue no mesmo caminho político de V. Exa. e que seja tão feliz nas próximas eleições como V. Exa. o foi nas passadas, o que duvido.

Damião José Lourenço Júnior


(1)Germano Lopes Martins – Ver a reunião do directório do PRP relatada por Alfredo de Magalhães. Era na altura Secretário-geral do Ministério da Justiça, sendo por isso a pessoa que se devia contactar caso se pretendesse algum favor ou cunha nas colocações de juízes e delegados.
No dia 21 de Fevereiro de 1914, Raimundo Meira emite a sua opinião sobre os três nomes propostos para lhe sucederem no cargo de Governador Civil de Viana do Castelo.

Meu caro Ramos Pereira

Dos três nomes que indicas na tua carta como tendo probabilidades de me substituírem o que eu julgo mais conveniente é o Maia Pinto. Conhece alguma coisa do Distrito e conhece os republicanos. Já foi mesmo em tempos indicado para este lugar.
Não sei se ele quererá e não sei se o Bernardino o nomeará por ser filiado.
O Engenheiro Belard da Fonseca sendo, como dizes, no fundo nosso correligionário estava bem, mas como não conhece o meio terá de encostar-se a qualquer dos grupos (Povo ou Antunes) e daí o reviver de zaragatas que agora já estavam quase extintas. Além disso creio que é desconhecido na terra e sendo assim voltava o isolamento que cercou o Fernandes Pinto* e eu julgo isso prejudicial não só ao nosso partido mas também à republica.

Do Rodrigues da Silva escuso de falar-te porque tu conheces bem a situação dele aqui. Não está filiado, mas creio que é muito amigo do Antunes, o que talvez fosse origem de futuras questões entre democráticos e poucas relações e simpatias tem fora do meio republicano.
Lembro-me ainda do Segismundo mas, não sei porque motivo, goza de poucas simpatias, entre os nossos correligionários, talvez porque santos da casa não façam milagres. Era capaz de fazer um bom lugar. Mas lá está também a filiação e a questão de ser tropa.
Enfim escolham mas mandem democrático ou pelo menos que o seja no fundo.
Há conveniência em resolver isto breve, principalmente para mim.

quarta-feira, abril 06, 2005

Os Candidatos

A 19 de Fevereiro, e a propósito da escolha do futuro governador civil de Viana do Castelo, Luís Ramos Pereira, senador do Partido Democrático escreve, apesar de agastado, a Raimundo Meira, dando-lhe conta dos vários candidatos para o lugar.

Meu caro Meira

Não comento o que dizes infamemente (vá lá o eufemismo) no caso Valença e Lima.
Uma coisa há, que tenho direito a exigir, é que façam justiça ao meu procurador.
Está assente em princípio que seja o teu substituto, o Maia Pinto, se este não quiser ou não for viável a sua indicação parece inclinar-se a sua indicação para o engenheiro Belard da Fonseca, no fundo nosso correligionário mas não filiado.
O nosso Rodrigues da Silva também foi lembrado, mas acho-o muito prejudicado.
O Bernardino diz não ter pressa em te substituir de modo que há tempo para daí dizeres alguma coisa, pelo que te peço não demores este assunto pois que devemos escolher quem seja bem o continuador da tua obra.
Ainda que não estejas no governo civil de Viana, deves por tudo continuar a dirigir a política de lá, mesmo pelo teu futuro político e pelos verdadeiros interesses do nosso distrito.

No Sábado fui a Cerveira, regressando aqui no Domingo. Nada te mandei dizer por não possuir carta tua respondendo às minhas suspeitas. Era a única razão de nada te mandado dizer bem como a ninguém.
-----??
(Ilegível) À minha insignificante personalidade política o que suceder, uma coisa há, que sempre perdurará é a velha amizade que te consagro, nunca esquecendo o que devo à tua amizade.
O decreto da tua exoneração não sai por enquanto. Dez o que pensas sobre as indigitações para a tua sucessão.
Um grande abraço do teu amigo

Luís Ramos Pereira

PS: Acabo agora de receber a tua carta e vou já falar com o Sá Cardoso.
Já tencionava falar com o Afonso sobre Viana.

domingo, abril 03, 2005

Confirmação do Telegrama

No mesmo dia em que enviou o telegrama cifrado a Alfredo Pinto, Raimundo Meira escreveu-lhe uma carta em que reafirmava o essencial do telegrama, sobretudo a preocupação de que a organização do Partido Democrático no distrito de Viana do Castelo sofresse com a sua partida.

Meu Exmo. Amigo
Confirmo o meu telegrama de hoje. Se for preciso pedir a demissão mande dizer, mas entendo não ser preciso, vistos os decretos de demissão dos militares já estarem lavrados e portanto os pedidos feitos.
Como disse é indispensável que venha para cá um democrático para não se perder tudo. Para escangalhar o partido cá no distrito basta o que tem feito o Ramos Pereira, Sousa Júnior, Dias Monteiro, etc, etc.
Muito estimei que continuasse neste lugar.
Agora um pedido que é importante.
Não consinto que retirem de cá a força da guarda republicana antes de se criada a destinada a este distrito. Lembra-se o meu bom amigo que se tinha relaxado por isso e que o nosso ministro assim o tinha prometido.
Deixo isso ao seu cuidado e fica bem entregue – logo que seja publicado o decreto da minha exoneração retiro-me para o Porto, tendo na Rua da Boa Hora 29, uma casa às ordens. Desculpe tanta maçada que lhe disse e mande sempre

Raimundo Meira