quinta-feira, agosto 04, 2005

O fim da travessia

Já nas costas Brasileiras, José de Sousa Guimarães escreve novamente a Raimundo Meira a dar conta das suas esperanças num futuro melhor em terras de vera-cruz.

A bordo do Orduña, 28-06-1914

Meu querido amigo

Chego amanhã a Pernambuco onde deitarei esta carta. Deve ter recebido três ou quatro cartas que lhe escrevi sobre o caso de São Tomé e sobre a minha pronúncia. Hoje, mais a sangue frio, digo-lhe que estou resolvido a ficar no Rio, no caso de ser bem recebido logo de entrada.
Dizem-me que me não será dificil arranjar a ser médico numa fábrica qualquer, o que me renderia um ou dois contos de reís fracos por mês. Tendo eu então tempo de sobra para criar uma clientela.
Portanto, quando chegar ao Rio, verei se as coisas me correm bem e de lá escreverei. Peço-lhe que faça contar que estou no Maranhão, a fim de que os bandidos dos Arcos me deixem em socêgo.
No caso de ser infeliz, peço-lhe que reserve, se for possível durante um mês, o lugar de médico de São Tomé se conseguir arranjar com o auxílio do Dr. Damião a quem também já escrevi.
Mando-lhe uma cópia da carta, por mim escrita ao gatuno do Vaz Guedes. E previno o meu bom amigo com toda a lealdade de que pedi a todos os meus amigos dos Arcos para votarem nos candidatos democráticos, menos no larápio que me roubou.
Respeitosos cumprimentos à sua excelentíssima esposa e um abraço do

Muito dedicado e afectuosissímo

José de Sousa Guimarães

PS: Vai muita gente enjoada a abordo, menos bem que vou bem disposto, ape-sar do mar, nesta altura está bastante agitado.
JG


A experiência de José de Guimarães na Brasil será muito curta, voltará a Portugal antes do fim do ano de 1914.

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