domingo, agosto 28, 2005

O Poeta

Em 2 de Setembro, Raimundo Meira recebe uma carta de António Correia de Oliveira, Poeta, que tinha encetado negociações, para a venda do Palácio de Belinho em Viana, propriedade da família da sua mulher, para ali ser instalado o Governo Civil. Com o dinheiro da venda do palácio Correia de Oliveira desejava criar um colégio em Belinho, onde residia. A carta versa sobre as dificuldades com que o Governo Civil se debruçava para obter o empréstimo destinado à compra do palácio.

Novembro, 2.9.914
Belinho

Ex. Senhor
Meu bom amigo

Recebi, neste instante de meu irmão, a quem encarreguei de amparar o caso de Viana junto da Caixa Geral de Depósitos, onde tenho um valioso amigo, membro do Conselho de Administração, uma longa carta.
Em resumo, diz ele pela boca do seu competentíssimo informador: “Na Caixa está tudo feito: o empréstimo apurado e pronto a sair quando for preciso se devidamente reclamado.
O Bruschy diz que o que falta é somente um ofício de Viana pedindo a inclusão da importância do empréstimo na respectiva tabela das despesas.
Enfim, em Lisboa não há nada a fazer: tudo depende de Viana”.
Estas palavras, que impressionam pela sua flagrante nitidez e clareza, envolvem uma grande e bela noticia. A Caixa declara-se habilitada e disposta, sem mais dependências, a entregar o dinheiro, o que, como Vexa ainda me dizia há dias no Porto, é tudo.
Mas continua em ponto obscuro que, parece-me, creio que vai ser da mesma opinião. Urge e convém esclarecer, não vá ele ser a terrível casca de laranja. É o tal ofício. É certo que o Senhor Ramos Pereira disse que ele não é preciso. Certíssimo é também, todavia que os meus amigos e o próprio Brunchy, cujo parecer é de muitíssima consideração, dizem que ele é indispensável. Quem terá razão? Impõe-se o apuramento deste caso. E por todos os motivos, pela sua alta situação e influência, pelo seu nome ligado para sempre a esse alto benefício concedido à bela cidade do Minho, pela afectuosa simpatia que nos tem dispensado sempre, vexa pode, como ninguém, moral e politicamente remover esse obstáculo, pequeníssimo de resto, relativamente aos muitos que já venceu.
Informando-o disto, - como não podia deixar de fazer, venho pedir-lhe encarecidamente, mais uma vez, a bondade da sua atenção e do seu poderoso esforço, para vencer afinal, com brevidade, alegria e honra, esta grande batalha.
A casa de Belinho*, infelizmente, carece de ganhar uma certeza real nesta operação do aproveitamento do antigo liceu, com que Viana lucra e nós lucramos e cuja esperança tem sido, há um ano para cá, a base essencial dos seus novos planos de administração.
Devo também dizer que aquele amigo da Caixa Geral, recomenda que, informada e insistentemente que apressem a realização do empréstimo, porque, estando agora vencidas todas as dificuldades, podem, em todo o caso, neste apertado momento de crise, surgir embaraços financeiros e políticos, que tudo prejudiquem.
Isto é razoável e evidente.
E grande e grave pena seria que justamente sobre a última trincheira se perdesse a esperança que tanto esforço, tantos trabalhos e tamanha dedicação lhe tem custado. Mas nas suas boas mãos, como até aqui, continua tudo, e não podia estar melhor. Urge uma acção enérgica e decidida. Imagino que uma sua jornada a Viana resolveria tudo…
Perdão por todas estas fadigas que lhe dou. Fico ansiosamente, esperando as suas novas.
Deus traga com elas, uma boa noticia.
Para Vexa de toda esta casa amiga, mil cumprimentos e afectos.
Com a mais alta estima e a mais alta consideração, seu amigo e criado

António Correia d’Oliveira

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