sábado, novembro 19, 2005

23/12/1914

Meu caro Meira

Confirmo a minha carta última que era acompanhada doutras que tu me enviaste.
Hoje devolvo-te as cartas do Dias Pereira e do Rodrigo de Abreu. Este ainda sendo considerável na sua … ingenuidade.
Vistes o “Povo” último?
Diz-me meu irmão José que a despedida do G. Rodrigues parecia mais a des-pedida de um Governador Civil Evolucionista que extra-partidário. É espanto-so, depois disto, o que se está passando com os nossos correligionários do “Povo”.
A ideia do Dias Pereira era sublime.
Diz-me se recebeste a minha última carta.
Desejo que tu e a tua esposa tenham umas felizes festas.

Abraça-te o teu Amigo dedicado

Luís Ramos Pereira

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quarta-feira, novembro 16, 2005

Faz hoje um ano que iniciei a publicação do Blogue "Cartas Portuguesas" com a uma perspectiva da 1ª República Portuguesa (1920-1926) através da correspondência recebida por duas figuras do mesmo regime, General José Augusto de Simas Machado e Coronel Raimundo Enes Meira.Um ano passado e publiquei cerca de uma centena de textos com Cartas que cobrem o periodo 1911-1914, 3 anos em um e ainda faltam cerca de 500 cartas (1915-1928).Este é um trabalho enorme, mais do que havia previsto e se já era dificil quando acumulava o hobbie de historiador com a minha vida profissional, mais ainda quando acumulo a minha vida profissional com a frequência, até agora bem sucedida, de uma pós-graduação.
Apesar da falta de tempo, farei os possíveis para manter uma cadência de dois textos por semana.
Um abraço especial para alguns bloguistas que me incentivaram a levar por diante este projecto:
Bruno do "
Nova Frente"
Adelino Maltez do "
Sobre o tempo que passa" e em particular do seu site "Respublica", valiosa fonte de informação.
O "desaparecido" Clark do "
Claque Quente"
Almocreve do "
Almocreve das Petas"
Marco Oliveira do "
Antigamente" e "Povo de Bahá"
Manuel Correia do "
Egas Moniz

segunda-feira, novembro 07, 2005

Muda o governo muda o Governador

Com a mudança do governo, em Viana do Castelo, discutia-se quem é que seria o novo Governador Civil. As lutas intestinas dentro do partido democrático de Viana, punham a cabeça em água aos seus dirigentes em Lisboa.
A carta seguinte foi escrita por Luís Ramos Pereira a Raimundo Meira

19/XII/1914

Meu caro Meira

Tenho recebido todas as tuas cartas e muito te agradeço o que tens feito pelo rapaz Bernardo, protegido da esposa do Presidente.
Qual o resultado da junta?
Acho a situação do Antunes um tanto difícil, para não dizer insustentável mas entendo que não deve ser dada a demissão, em virtude de um telegrama do governador demissionário que o açaimou de desleal. A atitude do Antunes foi precipitada e irritante, mas a acção dos outros por meio de telegramas faz que queira a mostrar. Prece coisa de rapazes.
A nossa politica em Viana continua mal e pior irá ser se tu não voltares para lá como governador civil.
O Damião não seria mau, mas falta-lhe autoridade para se impor a esses e aos outros. Esta é que é a verdade.
Tu melhor sabes do que eu que há elementos importantes e preponderantes que enfileiram (será eufemismo) com a gente do “ povo”.
Deveria ter graça e para tudo se completar deveria ele ser o substituído.
Bem sei quanto te custava ter de voltar para Viana, mas tem paciência que tal é necessário, não só politicamente mas também para se completar a tua obra.
Recebi hoje uma carta do Rodrigo de Abreu que me procurou maluco, com tamanha insistência, na continuação do Guilherme Rodrigues. Isto é fantásti-co!! Nenhum Governador Civil novo terá tamanha lambidela de botas no “Povo” como esta.
A situação do Antunes só será resolvida com um Governador-Civil nosso.
Diz-me alguma coisa com brevidade.

Um abraço do

Teu amigo dedicado

Luís Ramos Pereira

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quinta-feira, novembro 03, 2005

Os Miseráveis

Em 12 de Dezembro de 1914, Manuel de Arriaga nomeia Victor Hugo de Azevedo Coutinho, obscuro oficial da armada e militante do Partido Democrático, presidente do Conselho de Ministros. Este forma um governo com personalidades Democráticas de 2ª e 3ª categoria, com excepção de Alexandre Braga que ocupava o cargo de Ministro do Interior. Na prática este era um governo de marionetas manobradas por Afonso Costa, pelo que foram imediatamente apodados de “Os Miseráveis de Victor Hugo”.
Alexandre Braga era um democrático Radical com fama de duro, mas em 1914, a sua estrela já estava a empalidecer, fruto do seu alcoolismo crónico e da sua vida dissoluta, que aliás seria a causa da sua morte prematura em 1921, com 50 anos.
Devido ao facto de Alexandre Braga ser o ministro mais proeminente, o governo de Azevedo Coutinho, este também ficou conhecido como a “Adega do Braga”.

O domínio do Ministério do Interior era a chave para a vitória nas eleições, pois dele dependiam os Governadores-Civis e destes dependiam os administradores dos concelhos. Destes últimos dependia o recenseamento eleitoral através da concessão dos certificados de residência, fundamentais para a inscrição. Estes certificados só eram emitidos elementos de confiança. Os governadores civis concediam os favores, controlavam o acesso a empregos públicos, organizavam as milícias de vigilantes e por isso a vitória pertencia sempre ao partido do Governador Civil. (
Ver Carta de Afonso Costa)

Apesar de ter nomeado um ministério 100% Democrático, os objectivos de Manuel de Arriaga eram completamente diferentes dos de Afonso Costa. Quando nomeou Bernardino Machado presidente do Conselho, Arriaga fez uma declaração na qual frizava que a garantia de eleições livres só poderia ser dada caso estas fossem organizadas por governos extra-partidários. Esta declaração que para além de insinuar a manipulação de resultados das eleições de Novembro de 1913, permitiu aos inimigos de Afonso Costa (Brito Camacho, António José de Almeida) obstruir, no Senado, a acção dos governos apoiados pelo Partido Democrático, tentando aprovar uma lei eleitoral na qual os analfabetos e os militares pudessem votar.
Em Janeiro de 1915 os democráticos aprovaram uma lei eleitoral na qual apenas comtenplavam a concessão de permitirem as representações minoritárias.
Quando o congresso encerrou em 12 de Janeiro de 1915, as perspectivas da oposição eram negras, chegando estas a pensar na abstenção, quando um acontecimento fortuito vai provocar uma viragem dramática.

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