segunda-feira, abril 23, 2007

Contando espingardas

A 14 de Março Segismundo A. Pereira, militar, escreve a Raimundo Meira a combinar um encontro no Porto. Pela Carta Segismundo informa Raimundo Meira da sua disponibilidade para secundar um possível golpe militar.

Meu caro Meira

Há palavras da tua carta anterior à que anteontem recebi que não dei o sentido restrito do seu significado literal, mas antes (conforme fiz ver ao Manuel dos Santos, que foi chamado à barra) dei-lhes uma interpretação de tal modo diferente que sem dúvida nela há de caber ou moldar-se a causa que a mim ou ao Manuel reclama aí. Presumo do que se trata e deve tratar-se. Não surgindo daí qualquer contrariedade irei na próxima Sexta-Feira no comboio-correio da tarde e seguirei para o hotel Aliança onde te esperarei pelas oito e meia.
Que não haja desânimo, dizes-me que sim, eu pelo menos não desanimo: antes vibro com franca fé pela República, meu único credo político no passado e no presente, e no futuro se não surgir um certo rei perfeito.
Trago sim confrangido o coração com o hiper-desvairamento que se encontram muitos republicanos por causa da organização deste ministério, da sua política, da sua obra, que não sei se tem por objectivo hostilizar o partido democrático, se por bem intencionado reparar erros, ou ainda se, pelo andar que as coisas estão tomando, irritado, azedado, atalassado, preparar a intriga, como por vezes se chega a presumir da República à nação. Seja como for, creio assim a República uma tal situação quer os seus amigos, sobretudo nos meios pequenos, remetem-se humilhados. Mas não ficará por aqui a nova revolução. Se com este ministério a Talassaria concorrer às urnas, neste distrito e no de Braga e por certo nos outros, os republicanos nem talvez apanhem as minorias.
Ora tudo isto não fazendo perder a fé numa vida sadia da República, vai no entretanto torturando muito e muito aqueles que não cultivaram o “sport” de atirar à república em vez de atirar à nação, obras que lhe dessem prosperidade e achatassem a talassaria. Agora sem ruído é preciso restabelecer a Republica. Para isso tem o meu franco concurso. Falaremos. Até Sexta-Feira à noite.

Teu certo e estimado amigo
Viana 14/03/1915
Ségis

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terça-feira, abril 17, 2007

Preparando o golpe

No dia seguinte Sá Cardoso relata a Raimundo Meira o ambiente que se vive na capital, onde impera o ódio aos Democráticos. Dois meses antes do golpe que organizou, Sá Cardoso não deixa transparecer as suas intenções nesta carta.

Lisboa 13/3/1915

Meu caro amigo

Fiquei contentíssimo com o que me conta. Oxalá um dia, eu possa dizer-lhe o mesmo de Lisboa.
Por enquanto isto por cá não está bem. Em verdade pode dizer-se que predomina o ódio aos democráticos e que, a isto, tudo se […], opiniões, República, tudo enfim.
Em Lisboa só há, por assim dizer, democráticos e anti-democráticos, estando todos, unionistas, evolucionistas, machadistas e monárquicos unidos contra nós.
Isto faz com que qualquer movimento que aqui se tentam agora tirem todo o carácter partidário, o que não convém nem mesmo ao partido que possa defender a República e os seus interesses.
Para mim, tenho por certo que isto não acabe bem. As perseguições são constantes aos republicanos e não só aos democráticos, havendo blandicias para os monárquicos, que são afinal, quem manda no Ministério da Guerra.
Temos de deixar passar a opinião para então aqui e deixar desde já preparadas as coisas para pararmos o grande golpe que se está a preparar na sombra.
A República não morrerá porque tem o povo a defendê-la mas tenho a certeza que vai ser minada fortemente pelos monárquicos que habilmente estão a preparar o voto favorável para prepararem a volta do tigre com o amotinamento, ie, queria dizer consentimento do António José e do Camacho.
O que importa é saber, porque de vários pontos me chegam notícias, que fora de Lisboa a atmosfera é democrática.
O caso do empréstimo, este está ao cuidado dos próprios que têm para o despachar. Que deve de estar por um fio se o novo ministro não levantar embaraços
Adeus caro amigo

Sá Cardoso

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domingo, abril 08, 2007

Viana ao Rubro

Os democráticos, por outro lado, estavam extremamente nervosos, pois, ao não possuírem qualquer apoio no governo, estavam a perder o controlo dos governos civis e das administrações de concelhos, conforme podemos ler nesta carta de Rodrigo de Abreu a Raimundo Meira escrita a 12 de Março de 1915.

Meu caro Amigo

Recebi a sua carta. Eu também tenho trabalhado na defesa da República quanto tenho podido e para mim não há desânimos, nem mesmo na hora de maior perigo. As violências já começaram também por cá. Eu estou envolvido num caso de bombas, acusado por o Esgueira Machado e outros conspiradores da Meadela. Estão a instaurar um processo e falam em buscas. Não tenho nada na minha casa, mas só lá entram à força porque eu não consinto que lá entrem doutro modo enquanto não está no trono o D. Manuel. Já disse ao administrador que trabalho nestes assuntos desde 1904 e não me deixo cair assim à boa nas artimanhas dum parvo como ele e que me vendo caro. Os talassas continuam radiantes e fazem no Domingo a procissão dos Passos. Estão a ser nomeados os regedores entre tudo o que há de mais talassas.
São mais covardes. Há dias escreveram uma insolência ao nosso partido por debaixo do telegrama que anunciava a reunião do congresso em Loures. Estava presente o A. Campos, o Sabonete, o General Marques, o Capitão Branco, os filhos e outros. Desafiei-os, chamei-lhes Garotos, disse tudo quanto me veio à cabeça e os tipos rasparam-se sem dar um pio. Disse-lhes que era formiga mas que antes dos talassas me porem um dedo eu havia de fazer virar a algum, as pernas por cima da cabeça – Nem assim!!! Quanto à Câmara mandou a sua adesão e vou reunir a deliberativa que alguma coisa fará também.
Entre os requerimentos nossos, evolucionistas e talassas entraram 800 e tantos, mas desses, 300 devem ser deles, dos talassas. Vai-se fazer o protesto contra a entrada dos requerimentos depois do dia 28. Ficou hoje de manhã alguém encarregue disso. Hoje esteve cá o Ramos Pereira e mostra grande empenho que alguém vá daqui à reunião do congresso. Vou hoje ver se se pode conseguir alguma coisa nesse sentido, porque eu, somente á minha custa não posso ir, porque os tempos estão bicudos … Se não for ninguém, delegaremos na gente de Lisboa.
O Congresso é muito importante e não se deve dar lá uma impressão de fraqueza que o torne inferior ao da Figueira. Eu queria ir mas talvez não o consiga.
Vou mandar a sua carta ao Oliveira. Também me parece que este governo não chega às eleições, mas é preciso estar a pau porque isto não está nada bem. Mande sempre

O seu amigo

Rodrigo de Abreu

12/3/1915

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quinta-feira, abril 05, 2007

Convites a candidatos

O partido Evolucionista, porém jogava tudo por tudo nas eleições organizadas por Pimenta de Castro. Simas Machado tentava convencer Alfredo de Magalhães a se apresentar como candidato pelo Porto.

Meu caro Simas

Recebi ontem essa carta do Fontinha e respondi-lhe nos termos que também lhe envio a si por cópia.
Se os Evolucionistas me gramarem a conferência como a tenho fisgada, só depois dela poderei definir a minha atitude política.
Isto não quer dizer que não tenha a maior satisfação em reatar relações com o António José, se ele entretanto vier ao Porto; mas no interesse de todos, convém que eu proceda assim. Entendido?

Seu amigo

Alfredo

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