Meu caro Meira
Há palavras da tua carta anterior à que anteontem recebi que não dei o sentido restrito do seu significado literal, mas antes (conforme fiz ver ao Manuel dos Santos, que foi chamado à barra) dei-lhes uma interpretação de tal modo diferente que sem dúvida nela há de caber ou moldar-se a causa que a mim ou ao Manuel reclama aí. Presumo do que se trata e deve tratar-se. Não surgindo daí qualquer contrariedade irei na próxima Sexta-Feira no comboio-correio da tarde e seguirei para o hotel Aliança onde te esperarei pelas oito e meia. Que não haja desânimo, dizes-me que sim, eu pelo menos não desanimo: antes vibro com franca fé pela República, meu único credo político no passado e no presente, e no futuro se não surgir um certo rei perfeito. Trago sim confrangido o coração com o hiper-desvairamento que se encontram muitos republicanos por causa da organização deste ministério, da sua política, da sua obra, que não sei se tem por objectivo hostilizar o partido democrático, se por bem intencionado reparar erros, ou ainda se, pelo andar que as coisas estão tomando, irritado, azedado, atalassado, preparar a intriga, como por vezes se chega a presumir da República à nação. Seja como for, creio assim a República uma tal situação quer os seus amigos, sobretudo nos meios pequenos, remetem-se humilhados. Mas não ficará por aqui a nova revolução. Se com este ministério a Talassaria concorrer às urnas, neste distrito e no de Braga e por certo nos outros, os republicanos nem talvez apanhem as minorias. Ora tudo isto não fazendo perder a fé numa vida sadia da República, vai no entretanto torturando muito e muito aqueles que não cultivaram o “sport” de atirar à república em vez de atirar à nação, obras que lhe dessem prosperidade e achatassem a talassaria. Agora sem ruído é preciso restabelecer a Republica. Para isso tem o meu franco concurso. Falaremos. Até Sexta-Feira à noite.
Teu certo e estimado amigo Viana 14/03/1915 Ségis |