domingo, abril 08, 2007

Viana ao Rubro

Os democráticos, por outro lado, estavam extremamente nervosos, pois, ao não possuírem qualquer apoio no governo, estavam a perder o controlo dos governos civis e das administrações de concelhos, conforme podemos ler nesta carta de Rodrigo de Abreu a Raimundo Meira escrita a 12 de Março de 1915.

Meu caro Amigo

Recebi a sua carta. Eu também tenho trabalhado na defesa da República quanto tenho podido e para mim não há desânimos, nem mesmo na hora de maior perigo. As violências já começaram também por cá. Eu estou envolvido num caso de bombas, acusado por o Esgueira Machado e outros conspiradores da Meadela. Estão a instaurar um processo e falam em buscas. Não tenho nada na minha casa, mas só lá entram à força porque eu não consinto que lá entrem doutro modo enquanto não está no trono o D. Manuel. Já disse ao administrador que trabalho nestes assuntos desde 1904 e não me deixo cair assim à boa nas artimanhas dum parvo como ele e que me vendo caro. Os talassas continuam radiantes e fazem no Domingo a procissão dos Passos. Estão a ser nomeados os regedores entre tudo o que há de mais talassas.
São mais covardes. Há dias escreveram uma insolência ao nosso partido por debaixo do telegrama que anunciava a reunião do congresso em Loures. Estava presente o A. Campos, o Sabonete, o General Marques, o Capitão Branco, os filhos e outros. Desafiei-os, chamei-lhes Garotos, disse tudo quanto me veio à cabeça e os tipos rasparam-se sem dar um pio. Disse-lhes que era formiga mas que antes dos talassas me porem um dedo eu havia de fazer virar a algum, as pernas por cima da cabeça – Nem assim!!! Quanto à Câmara mandou a sua adesão e vou reunir a deliberativa que alguma coisa fará também.
Entre os requerimentos nossos, evolucionistas e talassas entraram 800 e tantos, mas desses, 300 devem ser deles, dos talassas. Vai-se fazer o protesto contra a entrada dos requerimentos depois do dia 28. Ficou hoje de manhã alguém encarregue disso. Hoje esteve cá o Ramos Pereira e mostra grande empenho que alguém vá daqui à reunião do congresso. Vou hoje ver se se pode conseguir alguma coisa nesse sentido, porque eu, somente á minha custa não posso ir, porque os tempos estão bicudos … Se não for ninguém, delegaremos na gente de Lisboa.
O Congresso é muito importante e não se deve dar lá uma impressão de fraqueza que o torne inferior ao da Figueira. Eu queria ir mas talvez não o consiga.
Vou mandar a sua carta ao Oliveira. Também me parece que este governo não chega às eleições, mas é preciso estar a pau porque isto não está nada bem. Mande sempre

O seu amigo

Rodrigo de Abreu

12/3/1915

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