sexta-feira, janeiro 25, 2008

O Pânico democrata

Em Março de 1915, os Democráticos de Viana do Castelo estavam em pânico. Viam conspirações em todos os cantos e esquinas. A perspectiva de umas eleições nas quais todos pudessem votar, afigurava-se-lhes uma catástrofe anunciada. A organização e apoio que pela primeira vez os monárquicos demonstravam, estavam a pôr os cabelos em pé aos partidários de Afonso Costa. Em face disto, era necessário prepararem-se para o pior e vigiar de perto as acções monárquicas.

Viana, 16/3/1915

Meu caro amigo

Ontem houve aqui grande reunião monárquica. Nela estiveram vários conspiradores de categoria. Esteve o Zé gatuno, Luís de Magalhães, Conde de Azevedo, Adolfo Pimentel, Reitor de Caminha, Regos de Caminha, Conde Vitorino, Amândio Lisboa, António Carvalho e outros. O Zé gatuno procurou e falou com o Reimão*.
O Zé de Abreu de Ponte de Lima mandou dizer que estava com os monárquicos ainda mesmo que pelo distrito propusessem o filho.
O assunto que, segundo me informou, foi discutida a questão eleitoral. Resolveram, depois de breve discussão ir às urnas em todos os concelhos onde pudessem ganhar. Onde não fossem disputariam as eleições camarárias e paroquiais.
Participei este assunto ao Governador Civil sem entrar em pormenores, porque não confio nele, e só lhe disse isto, que tinham cá estado estes membros, foi apenas para ver o que ele dizia. Continuam, ao mesmo tempo que preparam estas coisas, a conspirar à bruta, aguardando o momento propício para um movimento pela força armada. Veja se decifra esse papel que aí vai a lápis duns apontamentos que tirei à pressa para uso próprio.
Eu talvez vá ao Porto brevemente. Por aqui tem nomeado conspiradores para regedores. Já estão dois nomeados, um em Santa Marta outro na Meadela.
Não tenho tempo agora para mais. Escreva e conte coisas.

Seu amigo certo

Rodrigo de Abreu


* Malheiro Reimão - Ministro do Governo de João Franco de Castelo Branco

Este é o manuscrito referido por Rodrigo de Abreu, provavelmente copiado de um relatório de uma toupeira que actuava dentro da organização monárquica.

Dia 4 – Rua formosa, 237- Zé de Azevedo, Joaquim Machado, G. Abreu, P. Torres, Luís Magalhães e Reitor de Caminha – Esperam tumultos por ocasião da Reunião do congresso ou o assassinato de Afonso Costa.
Adiamento (das eleições) – Não lhes foram favoráveis as notícias de Lisboa.
Nova Reunião no Porto com O. Lima e Abel Martins Pinto dizendo este – é questão de mais uns dias – Paiva continua na Galiza. Padre Domingos continua em Vigo.
Dia 6 – Às 16 horas, Hotel Universal, Batalha. Vão aliciados falar com Reitor de Caminha por serem chamados. Recomendam vigiar os quartéis para não serem atacados pelos carbonários. Confirmando-se este assalto aos quartéis, devem participá-lo imediatamente aos dirigentes do Hotel Universal para serem avisados grupos e conjuntamente com a polícia assaltarem casas de republicanos e fazerem a anunciada matança.
Dia 8 – Teve uma conferência com D.C. de Menezes.
Dia 9 – Reunião no Hotel Universal com Abel Ferreira, Abel Pereira, Reitor de Caminha e Luís de Magalhães. Este diz "A coisa vai bem. O Pimenta de Castro tem quase tudo na ordem".

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