sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Preparando o Congresso Evolucionista

No mesmo dia, Luís Mesquita Carvalho, advogado, genro de Guerra Junqueiro e deputado do Partido Evolucionista por Santo Tirso, escreve a Simas Machado dando instruções sobre a preparação do congresso.

Meu Caro Simas

Quando recebi a sua carta, estava já publicada no “República” a nota da constituição da Junta Distrital partidária do Porto, o que para todos os efeitos equivale ao seu reconhecimento oficial e o deve ter satisfeito. No entanto, falei com o António José sobre o assunto; dizendo-me de que a demora na aprovação pela Junta Central resultou apenas do seu estado de Saúde e de um novo ataque de gota na mão direita, que o tem em casa há uma semana e o impossibilita absolutamente de escrever.
Pelo que respeita ao Miguel de Abreu, compete à comissão organizadora do congresso entender-se com ele; o que fará agora com facilidade, visto ele estar em Lisboa.
Não descure o meu amigo no distrito do Porto a representação ao congresso; lembre-se que a sua importância pela numerosa concorrência é para nós, neste momento, politicamente decisiva.
E lá nos entenderemos todos animados da mais viva fé para influirmos poderosamente, como convém, nos destinos desta infeliz República.

Abraça-o o seu amigo dedicado e obrigado

Luís de Mesquita Carvalho
Lisboa, 30/3/1915

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terça-feira, fevereiro 05, 2008

Almeida, António José de (1866-1929)

(Penacova, 18 de Julho de 1866 - Lisboa, 31 de Outubro de 1929). Médico, jornalista e político, 6° Presidente da República Portuguesa, nasceu de uma família de modestos lavradores (José António de Almeida e Maria Rita das Neves e Almeida) que o mandaram estudar a Coimbra, onde se formou (1895). Republicano desde os bancos da escola, viveu intensamente o período do Ultimato (1890), distinguindo-se por um contundente ataque ao rei D. Carlos no jornal académico O Ultimato, que intitulou «Bragança o último» e que lhe valeu a cadeia por três meses. Esteve também implicado na revolta republicana de 1891, mas sem lhe sofrer consequências. Concluído o curso de Medicina, embarcou para São Tomé onde exerceu clínica (1896-1903), se espe¬cializou em doenças tropicais e amealhou uma pequena fortuna que gastaria mais tarde no jornalismo e na política. De regresso à Europa, e depois de um breve estágio em clínicas de Paris (1903-04), abriu consultório em Lisboa, onde se tornou querido de uma vasta clientela popular.
Ingressando no Partido Republicano Português e, mais tarde, também na Maçonaria e na Carbonária, António José de Almeida depressa se tornou uma das figuras mais conhecidas e prestigiadas do republicanismo, quer pelas suas capacidades como orador impetuoso, agressivo e completamente demagógico.
Escreveu para vários jornais, sobretudo para A Luta, mas foi no Parlamento (1906-07; 1908-10) e nos comícios dos últimos anos da Monarquia que o seu talento oratório o impôs como caudilho indiscutível, além de o revelar como mestre de arte retórica. Em 1910 fundou a revista Alma Nacional, que dirigiu, e onde colaborou assiduamente até à proclamação da República.
Conspirador contra a ditadura de João Franco, preso e logo libertado após o Regicídio (1908), participou activamente na preparação do movimento republicano, sendo natural que lhe colhesse parte dos louros como ministro do Interior no Governo Provisório (5-X-1910 a 3-IX-1911) e como deputado (1911-15; 1915-17; 1919).
Como ministro deveu-se-lhe uma actividade fecunda, sobretudo no campo da Instrução pública. A necessidade da manutenção da ordem numa época difícil e conturbada por toda a espécie de fermentos políticos e sociais valeu-lhe a má vontade de parte das populações de Lisboa e Porto, que o acusaram de traidor e de certa maneira o empurraram para uma posição conservadora que nunca fora a sua. Ainda ministro, fundara e começara a dirigir o jornal República (1911), que se tornou o órgão de combate e de expressão de toda uma camada de republicanos que se opunham a Afonso Costa e às suas tendências radicais. Aí escreveu continuadamente até 1919. Fundou o Partido Republicano Evolucionista (1912), agrupamento heterogéneo e confusamente programado, onde militavam conservadores, extremistas e simples despeitados. Apesar da sua aparente força e da projecção nacional que teve, o Partido justificava-se tão-somente pela figura do seu chefe. Em 1916 reconciliou-se com Afonso Costa e aceitou a presidência de um governo de guerra conhecido como governo da União Sagrada (16-111-1916 a 25-IV-1917), onde também geriu a pasta das Colónias. Abandonando-o mais tarde, continuou porém a apoiar Afonso Costa até ao Sidonismo, que sempre repudiou, ao contrário da maioria dos evolucionistas.
Em Agosto de 1919, proposto pêlos Partidos Evolucionista e Unionista, mas com o apoio de muitos Democráticos, foi eleito presidente da República, cargo que desempenhou até ao fim do mandato (1919-23), com o aplauso e respeito unânime dos vários agrupamentos políticos e entre escolhos que pareciam insuperáveis. Visitou o Brasil (1922) para tomar parte nas festividades do centenário da Independência, deixando fama quase lendária pelas suas capa¬cidades oratórias. Ainda voltou a ser deputado por Lisboa em 1925 mas depois, doente e prematuramente envelhecido, passou em silêncio literário e político os últimos anos de vida.
Iniciado maçon por comunicação em 1907 (Álvaro Vaz de Almada), pertenceu à loja Montanha. Foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano em 1929, nunca podendo tomar posse devido ao seu estado de saúde.
Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República

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Entretanto, no campo Evolucionista

Simas Machado, simpatizante do Partido Evolucionista de António José de Almeida, é eleito presidente da Junta distrital do Porto desta agremiação política. António José, a convalescer de um ataque de gota (Excesso de ácido úrico), escreve-lhe a dar instruções para o congresso próximo.

Meu Ex.mo e prezado amigo

A doença não tem permitido que eu lhe escrevesse há mais tempo. V.Ex.ª me desculpará esta falta que tem sido inteiramente involuntária e que eu sou o primeiro a lamentar.
A junta Distrital do Porto foi sancionada e com muito prazer pela junta central. Esperamos agora que ela desempenhe as suas funções com o entusiasmo e o ardor próprio dos homens que a compõem entre os quais, com o mais alto prazer para mim, se encontre V.Ex.ª que muito estimo e respeito. Entre os trabalhos mais urgentes que essa junta tem a desempenhar deve contar-se uma grande representação de todo o distrito do Porto ao próximo congresso e que V.Exas. promoverão, tudo em vista que nas localidades onde não houver comissões organizadas nem por isso as diferentes tendências devem deixar de se fazer representar, porque qualquer núcleo de evolucionistas, à face do nosso estatuto tem o direito a enviar delegado.
Considero este assunto como muito importante, pois de uma larga e idónea representação do nosso congresso, dependerá em grande parte o nosso sucesso político no meio dos acontecimentos que se estão desenrolando.
Espero que V.Ex.ª e por sua parte como membro da junta distrital faça tudo o que puder para que neste momento difícil, mas tão cheio de esperanças para nós, o Partido Evolucionista consiga definitivamente a situação a que tem direito. Muito folgarei também de ver V.Ex.ª no congresso de Lisboa onde a sua alta inteligência e o seu grande critério muito úteis serão à orientação partidária.
Desculpe V.Ex.ª não escrever esta carta mais cedo, mas um fortíssimo ataque de gota me impede de escrever há mais de dez dias.
Aceite os protestos da minha consideração e da minha mais devota amizade.

Afectuosos cumprimentos

António José de Almeida

30/3/1915

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